Modelo de feto com sete semanas de vida.
Tenho notado que boa parte das controvérsias relacionadas à defesa do aborto está relacionada ao uso da linguagem, em especial em duas situações:
1) Muitas pessoas que são favoráveis ao aborto repetem com freqüência a seguinte frase: «a mulher tem o direito de escolher». Repare que a frase omite o objeto. Escolher o que? Quais são as escolhas que a mulher tem diante de si quando se lhe oferece a possibilidade do aborto? Se houvesse honestidade por parte dos abortistas, a frase completa seria «a mulher tem o direito de escolher entre matar o feto e deixá-lo desenvolver-se e nascer».
Nas discussões jurídicas, o verbo «matar» tem sido substituído por um eufemismo macabro: «interrupção terapêutica da gravidez», o que é ainda pior do que omitir partes de uma frase. «Terapia» significa «procedimento para tratamento de uma doença», como se a gravidez pudesse ser uma doença, como se o feto pudesse ser um vírus ou um parasita. Para ficar na questão da linguagem: que nome poderia ser dado a uma pessoa que considera o aborto uma terapia, a gravidez uma doença e o feto um parasita?
2) Por mais que se apóie no slogan que diz que o feto não é um ser humano, a mulher aborta não porque acredita não ter condições de cuidar de um feto, mas de uma criança. Em outras palavras, a mulher não aborta porque não suporta a gravidez, mas porque acha que não suportará a maternidade. Ela aborta não para livrar-se do feto, mas para livrar-se do bebê sem precisar vê-lo, sem precisar tê-lo nos braços.
Logo, a mulher grávida SABE que o que ela está abortando não é, no jargão abortista, «um simples punhado de células», mas um ser dotado de humanidade, um ser que desde a concepção JÁ TEM individualidade e que em alguma medida JÁ É uma pessoa. Esta individualidade já foi demonstrada pela medicina (embriologia, genética etc.) independentemente do estágio de desenvolvimento, mas os abortistas insistem em escondê-la.
Oras, um «punhado de células» que se torna uma pessoa não é um mero «punhado de células». Um pé de alface também pode ser considerado um «punhado de células». Só que o feto se torna uma pessoa inteira e um pé de alface continuará sendo um pé de alface até sua morte. Logo, a expressão «punhado de células» não quer dizer nada. Se, no entanto, ela é usada para referir-se a um ser vivo dotado de humanidade, fica claro que não se trata de um uso correto de uma expressão exata, mas de uma enorme e abominável canalhice lingüística.
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Nos dois casos — seja na omissão intencional do objeto do «direito de escolha», seja no uso de expressões como «punhado de células» — os objetivos são sempre os mesmos: banalizar a vida humana, esconder o fato de que o aborto é assassinato, desumanizar o ser humano em formação, reduzi-lo à materialidade mais vazia possível, tudo para que possa ser descartado sem o menor critério, sem o menor remorso.