Quinze artistas caminharam do Paço Imperial ao CCBB e, lá, abriram um cartaz mostrando um pênis e outros defendendo a liberdade de expressão.
Depois que a ditadura se cansou do país e soltou as amarras dos jornais, dos livros, dos manifestos artísticos, os oprimidos saíram ao sol e disseram “Grrrrrr!”, olharam feio para as pessoas ao redor, levantaram a perna esquerda e fizeram xixi no poste — e ainda chamaram de arte os riscos amarelos sobre o concreto caiado…
Franklin Cassaro decidiu, em protesto, retirar da mostra a sua obra “Coleção de Vulvas Metálicas”.
…
Eu não vivi aquela época. Estava ocupado assistindo Vila Sésamo. Mas me surpreendo com essas coisas. Foi para isso que derrubaram a ditadura? Para poder dizer “pênis” bem alto? Me poupe.
As pessoas confundem liberdade com libertinagem (um nome sóbrio para “putaria generalizada”).
Talvez seja apropriado reproduzir aqui um trecho de uma mensagem que enviei a uma pessoa que me criticou por ter oprimido sua (suspiro) liberdade de expressão numa das comunidades do Orkut, chegando, por isso, a me chamar de “autoritário”, mencionando inclusive o tempo da ditadura (suspiro):
A liberdade de expressão não dispensa o indivíduo da obrigação de dar sustentação às suas afirmações, não elimina a hierarquia do conhecimento e não anula a autoridade — ter autoridade não é o mesmo que ser autoritário. A liberdade de expressão exige que se tenha algo a expressar e é importante que esse ‘algo’ seja bom, verdadeiro e útil. Um pressuposto mínimo para exercer a liberdade de expressão é conhecer o assunto sobre o qual o indivíduo pretende se manifestar. Senão, qualquer discussão vira um chiqueiro.
Outro pressuposto para a liberdade de expressão é a responsabilidade por aquilo que foi expresso. É bastante simples dizer algo anonimamente, realizar ações de validade discutível e ao mesmo tempo manter-se imune às críticas. Expressar-se por expressar-se é fácil. É essa facilidade que tornou este fórum um palco de imbecilidades, em que todos dizem o que querem e se dispensam da obrigação de ouvir o que não querem.
Acontece no Orkut, acontece em toda parte.
Sobre isso, ? fundamental ler a segunda parte do artigo “Duas notinhas”, de Olavo de Carvalho:
http://www.olavodecarvalho.org/semana/060430zh.html