
Obamasana — ou a postura do herói.
Makoto é um dos princípios basilares do aikido. Makoto significa sinceridade ou honestidade, mas também pode ser entendido como verdade ou coerência entre palavra e ação. No yoga, o princípio que mais se aproxima de makoto é satya — verdade.
Nos dois casos, seja o praticante um aikidoka ou um yogue, o compromisso com a verdade é um pressuposto ao trilhar um caminho espiritual como uma arte hindu ou uma arte marcial japonesa.
Praticantes do aikido e do yoga têm — talvez mais do que outras pessoas — um compromisso com a verdade que deve ultrapassar suas vidas, suas disposições e pretensões. Há nessas artes a obrigação de desenvolver a capacidade de ver através da névoa espessa da mentira e da falsidade, ainda que essa visão implique a destruição de ilusões que sustentavam a vida do praticante; daí que makoto e satya podem causar frustração e desencanto. Em alguns casos, makoto ou satya podem fazer o praticante abandonar sua arte, caso ele seja incapaz de encarar a verdade que lhe é revelada.
Qual não foi minha surpresa quando vi que nessas duas artes há pessoas capazes e gabaritadas e ao mesmo tempo crédulas, desligadas da mais mínima consciência sobre makoto ou satya?
O boletim de yoga que recebo quase todos os dias começou hoje falando da posse do novo presidente:
Obama and Yoga — Regardless of what politics you may practice, today is a day of change and renewal. (…) Before he began his presidential campaign, he was asked why he wanted to become president. Obama answered that he wanted to be of service.
Como não encontro um link para o texto deste boletim, talvez o leitor queira ver outras referências a Obama no site da revista Yoga Journal. Não são poucas.
Dias atrás descobri um vídeo no YouTube intitulado Aikidoists for Obama, que mostrava um treino especial para levantar fundos para a campanha do democrata.
Eu entendo o que uma eleição presidencial pode significar para um país e mesmo quem deveria não se envolver com política de forma alguma acaba se envolvendo com ela até o pescoço. Mas é especialmente surpreendente e assustador quando esse envolvimento contraria princípios que sustentam as artes que essas pessoas praticam, o que significa que, ao menos em potência, essas pessoas estão dispostas a sacrificar essas artes em nome de… nada, em nome de uma imagem, em nome de algo meticulosamente construído para assumir o poder de um país e tornar-se símbolo de esperança e mudança, a despeito da abundância de evidências em contrário.
Eu não espero que essas pessoas leiam isto ou que conheçam as fontes citadas neste texto, mas o mínimo que espero delas — por uma questão simples de fidelidade àquilo que praticam e por autoproteção — é makoto e satya, um compromisso irrestrito com a verdade, mesmo que ela mostre, no fim, que mudança e esperança não constróem nações.
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