Anti-cidadania

Desde 2008 o IBOPE tem realizado, a pedido da ONG Nossa Ilha Mais Bela, pesquisas sobre a «percepção cidadã em Ilhabela». O objetivo destas pesquisas tem sido verificar a opinião de moradores, turistas e veranistas sobre diversos aspectos da cidade. Entre os resultados obtidos, o mais interessante é aquele que não se mostra através dos números e que, ao invés, só pode ser encontrado através de uma leitura mais atenta dos gráficos e números.

Muitas das perguntas incluídas nas pesquisas referem-se aos problemas que mais afetam a cidade, à visão que as pessoas têm desses problemas e às prováveis soluções. A síntese, reveladora por si, demonstra que 1) as pessoas não se vêem como responsáveis pelos problemas que as atingem ou como causadoras destes problemas e 2) atribuem ao poder público as possíveis soluções.

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A verdade não está lá fora

Tem como melhorar isto?

Para minha surpresa, mais de uma pessoa já me pediu conselho sobre como tornar Ilhabela um lugar melhorzinho. Aqui vão algumas linhas sobre isso.

Em primeiro lugar, eu não acredito que seja possível tornar Ilhabela um lugar melhorzinho. O lugar já é bom, as pessoas é que o estragam. Isto é bem óbvio, não? E se é óbvio, fica patente que pedidos como aquele e a idéia de que Ilhabela pode se tornar um melhorzinho são, para dizer o mínimo, sintomas de miopia grave. Em outras palavras, se o que interessa é fazer algo bom pelo lugar, comece não sendo totalmente cego para os fatores que trouxeram decadência para o arquipélago e perceba que eles não estão lá fora.

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Cultura salva vidas

Nos dias que sucederam o terrível maremoto que assolou o nordeste do Japão, jornais brasileiros noticiaram — sem esconder uma certa surpresa — o preparo e a organização do povo japonês para resistir a tais tragédias. Todos sabemos que o Japão é tecnologicamente preparado para lidar com os terremotos e maremotos, mas a maioria de nós não tinha noção de que a organização social e individual poderiam ter tanta importância nessas situações. Entre os sobreviventes, ordem e solidariedade. Não houve saques de casas e lojas, não houve caos ou histeria, apenas o firme sentimento de que as pessoas deveriam se ajudar a reconstruir suas casas e suas vidas.

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Para onde vamos?

Pico do Baepi, um dos símbolos de Ilhabela.

Em filosofia chama-se de consciência aquela capacidade de saber de onde viemos e, com base nesse conhecimento, saber exatamente para onde vamos. Em outras palavras, ter consciência consiste em ter uma memória saudável e saber utilizá-la para, hoje, fazer os ajustes necessários em nossa trajetória de vida. É a consciência, portanto, que conecta os três tempos que compõem a realidade.

Numa cidade as coisas não são diferentes. Qualquer ação que interfira no conjunto da cidade, na forma como seus habitantes interagem ou em seu desenvolvimento depende, é claro, da forma como sua história, seus atributos e seus patrimônios são levados em conta. Se isto pudesse ser resumido com uma expressão, eu a chamaria de «consciência urbana».

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O que o turista quer?

Sol, areia clara e água limpa -- falta algo?


Quando um turista decide vir para Ilhabela, o que ele espera encontrar aqui? São apenas duas coisas: boas praias e belas paisagens. O leitor pode ter pensado em bons restaurantes, bons hotéis, baladas, um centro turístico com boas opções de compras e lazer, preços justos e várias outras coisas que costumam fazer parte de um turismo interessante, organizado e eficiente. Mas se pensarmos por um instante nesses itens todos e ordená-los numa lista conforme sua hierarquia na cabeça de um turista, logo veremos o óbvio: o que um turista realmente quer é aquilo que é típico do lugar que ele visita. E veremos, em seguida, que quem vem para o arquipélago não busca bons hotéis e restaurantes, busca mesmo boas praias e belas paisagens.

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Nivelando por baixo

Há várias décadas entregamos aquilo que só existe no arquipélago em troca de coisas que podem ser conseguidas em qualquer lugar. Poder público e iniciativa privada chamam isso de progresso. Se fôssemos uma capital regional, um pólo financeiro ou industrial, eu entenderia. Mas somos uma cidade simples, originalmente formada de ranchos de pesca interligados por trilhas de terra batida. Até bem pouco tempo não havia carros e energia elétrica em Ilhabela. Hoje há carros e energia elétrica, mas há também assaltos e poluição do mar e dos rios. Nada obtivemos de bom nestes últimos anos que não viesse acompanhado de uma contrapartida igual ou maior. A agilização da travessia marítima, por exemplo, é algo que beneficia tanto aqueles que querem trazer para cá sua contribuição como aqueles que pretendem roubar o ouro que aqui ainda existe. Resta saber como vamos lidar com essa matemática de perdas e ganhos.

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