Eu nunca acreditei em fazer uma coisa chata e rentável por muitos anos, juntar dinheiro e depois — só depois — investir naquilo que se gosta. Não vejo bons exemplos ao meu redor e o que ocorre na maioria dos casos é que essa coisa chata e rentável acaba escravizando e degradando a pessoa ao ponto de estragar nela aquela paixão que ela possuía por várias outras atividades que poderiam ter feito dela uma pessoa muito melhor e mais realizada. E, claro, ela nunca mais volta a fazer essas coisas ou as faz no máximo como hobby, como diversão de horas vagas.
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O mais importante é você de fato ser uma pessoa digna, um mestre hábil, competente, amoroso, sábio e iluminado. Se você é isso, as pessoas vão até você e lhe pagam bem. E talvez eu não mereça ganhar dinheiro e ter uma vida boa se eu não puder ser uma pessoa com essas qualidades.
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Eu não me sinto em condições de trabalhar para me aposentar um dia. Eu me sinto em condições de começar algo ou dar seqüência (como no caso das coisas que acho que sei fazer) a algo que eu sei que eu vou fazer pelo resto da vida — não porque será necessário, mas porque eu realmente vou querer fazer isso pelo resto da vida, até o fim da vida.
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Trata-se de um assunto indigesto. Conversar sobre ele é uma forma de reafirmar ou confirmar minha incompetência para levar adiante as coisas que idealizo e desejo pra mim. Como não consigo levar adiante, eu falo ou escrevo ou resmungo. Ser pago para falar, escrever ou resmungar e transformar estas coisas numa carreira respeitável dependem de muita sorte.
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Eu aprenderia a gostar do que faço — sem me preocupar se se trata de algo que me fisgou a alma ou não — se já não gostasse tanto de fazer algumas coisas e se não soubesse que elas podem funcionar como uma carreira para vida toda — algo que eu nunca tive.
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Talvez as coisas sejam mais fáceis quando não se tem escolha.
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Imagem obtida aqui.